8 de decembro de 2016

O Sol Nasce Sempre (Fiesta)

Ernest Hemingway
O Sol Nasce Sempre (Fiesta) (1926)

Este romance de Hemingway designou-se The Sun Always Shine na sua edição original, e Fiesta quando foi editado em Inglaterra, daí a razão do título duplo.
A história anda à volta de um grupo de amigos que se movem por Paris: Jake Barnes (o narrador), Bill Gorton, Mike Campbell, Brett Ashley, e o judeu Robert Cohn (todos estadounidenses, à excepção de Mike – escocês – e Brett – inglesa –, sendo que os dois primeiros e o último são escritores), aos quais se juntam algumas personagens secundárias. Vivem todos uma vida boémia, carburada a álcool (muito se bebe neste livro!) e, em determinado ponto, Jake e Bill decidem ir ao País Vasco para uma pescaria; acabam por marcar encontro, em Pamplona, com Mike e Brett que se lhes reúnem, acompanhados por Cohn, que se fez convidado, devido ao seu interesse em Brett, apesar de saber que ela está acompanhada por Mike.
É pois neste fundo das festas de San Fermín, pormenorizadamente descritas, que se desenrola depois a trama, e a melhor parte do livro. Entende-se o  fascínio despertado por estas festas, e as touradas, com o seu exotismo, aos olhos de um estadounidense como Hemingway, quando elas ainda tinham algo de genuíno, antes de se massificarem completamente. «Gente chegara continuamente de fora, mas a cidade assimilara-a e não se dava por ela», escreve o autor. Há coisas que se perdem para sempre.

Feita uma curva entrámos numa vila e de ambos os lados se abriu subitamente um verdejante vale. Uma torrente atravessava o centro da vila e os vinhedos roçavam pelas casas.
A camioneta parou em frente de uma estalagem e muitos passageiros desceram, uma data de bagagem foi desamarrada do tejadilho e tirada, para o chão, de debaixo dos grandes oleados. Bill e eu descemos e entrámos na estalagem. Havia uma sala baixa e escura, com selas e arreios, forquilhas de madeira branca, cachos de alpargatas de sola de corda, presuntos, toucinhos, alhos e longos enchidos pendendo do tecto. Era fresca e sombria, e ficámos ao comprido balcão de madeira, onde duas mulheres serviam bebidas. Por trás delas, as prateleiras estavam cheias de géneros.
Cada um de nós bebeu uma aguardente, e pagámos quarenta cêntimos pelos dois copos. Dei à mulher cinquenta cêntimos contando com a gorjeta, e ela deu-me a moeda do troco, julgando que eu não percebera o preço.
Dois dos nossos vascos entraram e insistiram em pagar uma bebida. E assim pagaram a bebida e depois pagámos nós outra bebida, e eles deram-nos então palmadas nas costas e pagaram mais outra bebida. Foi depois a nossa vez, até que saímos para o sol e o calor e trepámos de novo para o tejadilho da camioneta. Havia imenso espaço agora para nos sentarmos no banco, e o vasco que viera deitado no forro de chapa sentou-se no meio de nós. A mulher que servira as bebidas apareceu a limpar as mãos ao avental e falou com alguém para dentro da camioneta. Apareceu então por sua vez o condutor, balançando duas sacas de couro com correio, e subiu, e, entre acenos de todos, arrancámos.

Li anteriormente:
O Adeus às Armas (1929)
Ilhas na Corrente (1970)
Na Outra Margem entre as Árvores (1950)