3 de xuño de 2017

Do Liberalismo à Apostasia – A Tragédia Conciliar

Marcel Lefebvre
Do Liberalismo à Apostasia – A Tragédia Conciliar (1987)

Como já escrevi sobre outro livro, no início deste ano, adaptando agora o tema e os autores, «Não tenho por hábito ler livros sobre religião escritos por membros do clero, mas...», e este mas prende-se com a personalidade do arcebispo Marcel Lefebvre (1905-1991), pois basta ler a sua biografia para se perceber a dimensão da sua integridade, de homem que não pactuou com aqueles que considerava os destruidores do catolicismo. Recordo-me, já vão mais de 30 anos, de ler o seu nome em curtas notícias sobre a sua «rebeldia» em continuar a celebrar a missa em latim – o que me parecia então uma bizantinice – porém o tema não era aprofundado e nunca me apercebi do que estava realmente em questão. Entretanto, recentemente, li um excerto deste mesmo livro, o qual me trouxe até aqui.
Com um título original ainda mais longo do que o desta edição publicada no Brasil (Ils l'ont découronné : du libéralisme à l'apostasie, la tragédie conciliaire), este livro tem por base uma série de conferências feitas no seminário de Écône, cidade suíça onde Lefebvre foi bispo, onde fundou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, e onde está sepultado.
Marcel Lefebvre entende que a Verdade é imutável por definição; a Verdade não pode ser uma coisa hoje e outra coisa diferente amanhã; para a fé, a evolução é a morte. Depois de fazer um historial do liberalismo, fruto do racionalismo e do subjectivismo, e da crítica que historicamente os papas lhe moveram, recorrendo à citação de inúmeros textos papais entre o séc. XIX e a primeira metade do séc. XX acerca do lugar da Igreja no Estado e dos perigos da modernidade, considera que o Concílio Vaticano II, minado por maçons e liberais, entra em contradição directa com a tradição e a doutrina da Santa Sé. As conclusões do Concílio levaram à ruína do direito público da Igreja, no que designa como Reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo, tendo como consequência directa a supressão do princípio do estado confessional católico, a sua laicização, a pedido do próprio Vaticano, o que considera uma verdadeira traição. Na verdade, sob o pretexto de «acompanhar os tempos», este Concílio não foi, aparentemente, a jogada mais brilhante (como a posição oficial da Igreja tenta ainda fazer crer), tendo em conta o esvaziamento dos templos e a descristianização galopante que não logrou estancar.
Crítico frontal e incómodo da Igreja pós-conciliar, Marcel Lefebvre acabou por ser excomungado por João Paulo II em 1988; foi também condenado a uma multa por um tribunal francês, em 1990, por delito de opinião, após se ter manifestado publicamente contra o perigo da imigração islâmica. Resta reconhecer a falta que fazem homens do sua craveira à Igreja e ao mundo actual.

— «Maçons, o que quereis?» O que solicitais de nós? Tal é a pergunta que o Cardeal Bea fez aos B'nai B'rith antes do começo do Concílio: a entrevista foi relatada por todos os jornais de Nova Iorque, onde ela se realizou. Os maçons responderam que queriam a «liberdade religiosa!», o que quer dizer todas as religiões em plano de igualdade. A Igreja, de agora em diante, não há de ser chamada a única e verdadeira religião, o único caminho de salvação, a única admitida pelo Estado. Terminemos com estes privilégios inadmissíveis e declarai então a liberdade religiosa. Eles o conseguiram: foi a «Dignitatis Humanae».
— «Protestantes, o que quereis?» O que solicitais para que vos possamos satisfazer e rezar juntos? A resposta foi: Trocai vosso culto, retirai aquilo que não podemos admitir! Muito bem, lhes foi dito, inclusive os chamaremos quando formos elaborar a reforma litúrgica. Vós formulareis vossos desejos e a eles nós ajustaremos nosso culto! Assim aconteceu: foi a constituição sobre a liturgia «Sacrosanctum Concilium», primeiro documento promulgado pelo Vaticano II, que dá os princípios e o programa detalhado da adaptação litúrgica, feita de acordo com o protestantismo, depois o «Novus Ordo Missae» promulgado por Paulo VI em 1969.
— «Comunistas, o que solicitais, para que possamos ter a felicidade de receber alguns representantes da Igreja Ortodoxa Russa no Concílio? Alguns emissários do K.G.B.!» A condição exigida pelo patriarca de Moscou, foi a seguinte: «Não condeneis o Comunismo no Concílio, não faleis neste tema!». (Eu acrescentaria: sobretudo nada de consagrar a Rússia ao Coração Imaculado de Maria!) e também «manifestai a abertura do diálogo conosco». E o acordo se fez, a traição foi consumada: «Estamos de acordo, não condenaremos o comunismo!» Isto mesmo foi executado ao pé da letra: eu mesmo levei, juntamente com Mons. De Proença Sigaud, uma petição com 450 assinaturas de Padres conciliares ao Secretário do Concílio Mons. Felici, solicitando que o Concílio pronunciasse uma condenação da mais espantosa técnica de escravidão da história humana, o comunismo. Depois, como nada acontecia, perguntei onde estava nosso pedido. Procuraram e finalmente me responderam com uma desenvoltura que me deixou estupefato: «Seu pedido se extraviou numa gaveta...». E não se condenou o comunismo; ou melhor, o Concílio cuja intenção era discernir «os sinais dos tempos», foi condenado por Moscou a guardar silêncio sobre o mais evidente e monstruoso dos sinais dos tempos atuais!
Está claro que houve no Concílio Vaticano II um entendimento com os inimigos da Igreja, para terminar com as hostilidades para com eles. É um entendimento com o diabo!

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