18 de novembro de 2017

Minha Luta

Adolf Hitler
Minha Luta (1925-1928)

O célebre Mein Kampf, esteve oficialmente fora de circulação por 70 anos. Quando voltou ao prelo, veio acrescentado de uma enormidade de notas de rodapé, para «fazer o contraditório»; a edição do Instituto de História Contemporânea de Munique acrescentou-lhe cerca de 5000 – um cuidado que não é tomado na publicação de outras obras consideradas extremistas. Entretanto, os críticos relembraram quanto a obra é enfadonha, mal escrita e pouco clara. Demasiado empenho com um livro que «não presta», dir-se-ia...
A qualidade da escrita é uma questão premente; no entanto, é preciso ter em consideração a história das traduções do livro para inglês, as quais se tornaram na fonte de outras traduções, devido à inacessibilidade em língua alemã. A primeira tradução foi feita em 1933, pelo britânico Edgar Dugdale, motivada pela chegada de Hitler ao poder, mas cobre menos de metade do texto original. Em 1936, o próprio governo alemão decidiu patrocinar uma nova tradução, a cargo de James Murphy, outro britânico, que entrou em desacordo com os contratantes e abandonou a tarefa em 1938; os alemães terminaram a tradução por sua conta e publicaram-na no final dessa década. É a designada edição Satalag, de muito má qualidade. Até 1939 surgiram mais quatro novas versões. Regressado a Inglaterra, James Murphy reviu e completou a sua tradução, que foi publicada em 1939; esta versão foi reeditada várias vezes e é a mais difundida na internet.
Também uma equipa liderada por Alvin Johnson efectuou uma tradução, publicada pela Reynal & Hitchcock, hostil ao conteúdo do livro e ao nacional-socialismo. Outra editora estado-unidense, Stackpole and Sons, produziu uma versão dirigida por William Soskin e Ludwig Lore, dois judeus, mas foi retirada, depois de um processo por infracção dos direitos de autor.
Entretanto a casa Houghton-Mifflin, que editara a versão de Dugdale, decidiu publicar uma nova tradução, mais completa, por Ralph Manheim, com introdução do jornalista Konrad Heiden, dois judeus alemães. É, sem surpresa, uma versão descaradamente hostil, publicada em 1943, e que se tornou na tradução «oficial», citada por académicos e jornalistas.
Como muitos alemães da época, Adolf Hitler escrevia com orações longas, em parágrafos extensos e complexos. Temos assim duas traduções – a de Murphy e a de Manheim – que se agarram em demasia a esse estilo, com prejuízo do leitor. Pior ainda, o esforço de tradução é pobre, e redunda por vezes em frases difíceis, incoerentes ou incompreensíveis, onde se perde a fluidez do original alemão. Murphy toma frequentemente «liberdades de tradução» que resultam em termos e expressões injustificadas, quando não deixa de fora frases completas. Manheim, mais literal, não é por isso mais inteligível. À excepção da de Murphy, todas as outras traduções contêm comentários hostis, que comprometem a imparcialidade do trabalho dos tradutores. Daqui se poderá concluir que as traduções foram propositadamente desfocadas para dificultar a leitura. Resta mencionar a recente tradução de Thomas Dalton, que se propôs restaurar o texto original, sem enviesamentos. Apesar de tudo, Minha Luta não deixa de ser um documento histórico de grande importância, para entender o primeiro quartel do século no contexto centro-europeu, e uma oportunidade rara de testemunhar o pensamento, antes da chegada ao poder, de um dos homens mais influentes do seu tempo.
O livro surgiu originalmente em duas partes; a primeira, de 1925, subintitulada «Retrospectiva», é maioritariamente autobiográfica e versa sobretudo a juventude do autor: da sua permanência em Viena, elabora uma análise minuciosa às condições políticas e sociais do império austro-húngaro nos primeiros anos do século XX; depois, a chegada a Munique, o combate nas trincheiras na Grande Guerra e, por fim, a análise exaustiva das causas da derrocada alemã no desfecho do conflito, servem de pretexto para um extenso enquadramento e análise que lhe permitem apresentar o pano de fundo para a sua opção política, que acabou por desaguar – quase por acaso – num partido recém-criado, que se viria a transformar no NSDAP. Em 1928 foi publicada a segunda parte, «Movimento Nacional-Socialista», na qual Adolf Hitler sistematiza o seu pensamento político; os cinco capítulos iniciais, mais do que um autêntico programa de governo, tratam da doutrina para uma ordem nova, propondo uma revolução de mentalidades e a construção de uma nova sociedade. Depois retoma a narrativa histórica no ponto em que terminara a primeira parte, em 1920, para descrever a ascensão triunfal do partido na sociedade alemã, a génese das SA, e outras questões relativas à natureza da organização e da estratégia partidária, que vai intercalando com mais análise e doutrina política.
Nas edições posteriores o livro adquiriu a forma definitiva. As vendas de Mein Kampf, inicialmente modestas, foram crescendo ao longo dos anos como uma bola de neve. Do milhão e meio de cópias vendido em 1933, passou a mais de 10 milhões em 1943, com tradução em 16 línguas. Mesmo depois da sua proibição, em países ditos «democráticos», o Mein Kampf continuou a ser editado em Inglaterra e EUA (onde vende mais de 15 mil exemplares ao ano) e, em edições não autorizadas, um pouco por todo o mundo (como no Brasil, onde a edição da Centauro é considerada a melhor em língua portuguesa), acompanhadas de um cortejo de protestos e de medidas repressivas. Já nos países árabes e da Ásia, livres dos constrangimentos dos tribunais bávaros, a obra foi um imenso sucesso, tendo há muito ultrapassado os 125.000 exemplares na Índia, ou os 100.00 durante os poucos meses em que esteve à venda, em 2005, na Turquia. Mesmo hoje em dia, depois de ter caído no domínio público, em 1 de Janeiro de 2016, a impressão do livro continua a ser impedida pelo quadro legal de muitas «democracias», a começar pela Alemanha. E percebe-se a razão...

O que mais que tudo e com mais insistência me fazia refletir no exame do parlamentarismo era a falta evidente de qualquer responsabilidade individual dos seus membros. O Parlamento toma qualquer decisão — mesmo as de conseqüências mais funestas — e ninguém é por ela responsável, nem é chamado a prestar contas.
Pode-se, porventura, falar em responsabilidade, quando, após um colapso sem precedentes, o governo pede demissão, quando a coalizão se modifica, ou mesmo o Parlamento se dissolve?
Poderá, por acaso, uma maioria hesitante de homens ser jamais responsabilizada?
[...]
Negando a autoridade do indivíduo e substituindo-a pela soma da massa presente em qualquer tempo, o princípio parlamentar do consentimento da maioria peca contra o princípio básico da aristocracia da natureza; e, sob esse ponto de vista, o conceito do princípio parlamentar sobre a nobreza nada têm a ver com a decadência atual de nossa alta sociedade.
Para um leitor de jornais judeus é difícil imaginar os males que a instituição do controle democrático pelo parlamento ocasiona, a não ser que ele tenha aprendido a pensar e a examinar o assunto com independência. Ela é a causa principal da incrível dominação de toda a vida política justamente pelos elementos de menos valor. Quanto mais os verdadeiros chefes forem afastados das atividades políticas, que consistem principalmente, não em trabalho criativo e produção, mas no regatear e comprar os favores da maioria, tanto mais a atuação política descerá ao nível das mentalidades vulgares e tanto mais essas se sentirão atraídas para a vida pública.
Quanto mais tacanho for, hoje em dia, em espírito e saber, um tal mercador de couros, quanto mais clara a sua intuição lhe fizer ver a sua triste figura, tanto mais louvará ele um sistema que não lhe exige a força e o gênio de um gigante, mas contenta-se com a astúcia de um alcaide e chega mesmo a ver com melhores olhos essa espécie de sapiência que a de um Péricles. Além disso, um palerma assim não precisa atormentar-se com a responsabilidade de sua ação. Ele está fundamentalmente isento dessa preocupação, porque, qualquer que seja o resultado de suas tolices de estadista, sabe ele muito bem que, desde muito tempo, o seu fim está escrito: um dia terá de ceder o lugar a um outro espírito tão grande quanto ele próprio. Uma das características de tal decadência é o fato de aumentar a quantidade de "grandes estadistas" à proporção que se contrai a escala do valor individual. O valor pessoal terá de tornar-se menor à medida que crescer a sua dependência de maiorias parlamentares, pois tanto os grandes espíritos recusarão ser esbirros de ignorantões e tagarelas, como, inversamente, os representantes da maioria, isto é, da estupidez, nada mais odeiam que uma cabeça que reflete.
Sempre consola a uma assembléia de simplórios conselheiros municipais saber que têm à sua frente um chefe cuja sabedoria corresponde ao nível dos presentes. Cada um terá o prazer de fazer brilhar, de tempos em tempos, uma fagulha de seu espírito; e, sobretudo, se Sancho pode ser chefe, por que não o pode ser Martinho?
Mas, ultimamente, essa invenção da democracia fez surgir uma qualidade que hoje se transformou em uma verdadeira vergonha, que é a covardia de grande parte de nossa chamada "liderança". Que felicidade poder a gente esconder-se, em todas as verdadeiras decisões de alguma importância, por trás das chamadas maiorias!
Veja-se a preocupação de um desses salteadores políticos em obter a rogos o assentimento da maioria, garantindo-se a si e aos seus cúmplices, para, em qualquer tempo, poder alienar a responsabilidade. E eis aí uma das principais razões por que essa espécie de atividade política é desprezível e odiosa a todo homem de sentimentos decentes e, portanto, também de coragem, ao passo que atrai todos os caracteres miseráveis — aqueles que não querem assumir a responsabilidade de suas ações, mas antes procuram fugir-lhe, não passando de covardes pulhas. Desde que os dirigentes de uma nação se componham de tais desprezíveis, muito depressa virão as conseqüências. Ninguém terá mais a coragem de uma ação decisiva: toda desonra, por mais ignominiosa, será aceita de preferência à resolução corajosa. Ninguém mais está disposto a arriscar a sua pessoa e a sua cabeça para executar uma decisão temerária.
Uma coisa não se pode e não se deve esquecer: a maioria jamais pode substituir o homem. Ela é sempre a advogada, não só da estupidez, mas também da covardia, e assim como cem tolos reunidos não somam um sábio, uma decisão heróica não é provável que surja de um cento de covardes.

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